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9º Encontro de Mulheres da Arquidiocese de Mariana é marcado por reencontros e clamores por respeito à vida e a dignidade das mulheres

“Quando uma mulher cuida da outra, nenhuma está sozinha” e “Seja uma mulher que levanta a outra”.


Publicado em: 07/03/2023 18:06:00

9º Encontro de Mulheres da Arquidiocese de Mariana é marcado por reencontros e clamores por respeito à vida e a dignidade das mulheres

Foto: Cândida Maria

Essas mensagens, escritas em cartazes na ambientação do salão que acolheu o evento, contemplam o espírito do que foi o 9º Encontro de Mulheres da Arquidiocese de Mariana. Realizado nos dias 03 e 04 de março, em Ponte Nova (MG), Região Mariana Leste, o evento reuniu aproximadamente 190 mulheres, advindas de todas as cinco regiões pastorais desta Igreja Particular. 

Abertura

Tendo iniciado na noite de sexta-feira, dia 03, as participantes do Encontro juntamente com a comunidade local participaram da Santa Missa de abertura na Igreja Matriz de São Pedro, pertencente à paróquia anfitriã. A celebração foi presidida pelo Pároco e Vigário Episcopal da Região Mariana Leste, Padre Luiz da Paixão Rodrigues, e concelebrada pelo Assessor Arquidiocesano da Dimensão Sociopolítica, Padre Geraldo Martins, e do Colaborador Paroquial, Cônego João de Souza Oliveira, Opraem. 

Durante a acolhida às participantes, Padre Luiz da Paixão recordou que o Encontro ocorre sempre durante a Campanha da Fraternidade, estando em comunhão com a CF, e que, em 2023, trouxe o lema: “Você tem fome e sede de quê?”. 

“A resposta está muito clara e a Campanha da Fraternidade deste ano nos lembra que fome, em nosso país, é uma triste realidade que dói e mata. O povo tem fome: fome de pão, fome de comida, fome de emprego, de moradia, de saúde, de educação. O povo tem fome, e o Mestre nos diz: ‘Dai-lhes vós mesmos de comer’. ‘Mulher, você tem sede de quê?’. Tem sede de água potável e gratuita, sede de justiça, de liberdade, de respeito, sede de vida. Hoje clamamos: Não à injustiça, não ao feminicídio, não ao preconceito e ao racismo. Não à fome e ao desperdício. Não à miséria e à ambição. Fome e sede sim: mas de justiça, de partilha e comunhão”, disse Padre Luiz da Paixão.

Além disso, o sacerdote aproveitou a oportunidade para deixar uma mensagem de encorajamento as presentes. “Mulheres, agradecemos a vocês que nos ensinam o valor da ternura e da luta, da alegria e da indignação, da profética teimosia, do amor pela vida, do incansável desejo de amar e serem amadas. Diante dos muitos desafios, não desanimem, não entrem os pontos, não se deixem dominar, não cedam á violência e à opressão. Lutem pela Vida, pela Dignidade e para saciar toda fome e sede”, enfatizou.

Com a palavra, ao final da celebração, o Assessor Arquidiocesano da Dimensão Sociopolítica, Dimensão responsável pela organização do evento, lembrou algumas figuras bíblicas femininas, como as parteiras narradas no livro de Êxodo, a viúva de Sarepta, a Rainha Ester e Maria, mãe de Nosso Senhor, que, para ele, são modelos de promoção e defesa da vida. Ainda, ele provocou dizendo: “não tenham medo de dizer do quê vocês têm fome e sede”. 

“Eu diria ainda, vocês têm fome e sede de uma participação mais igualitária na nossa Igreja, de poder estar nas instâncias de decisão — quem diz isso não sou eu, é o Papa Francisco —. […] Fome e sede de uma participação efetiva na Igreja, participando das decisões, orientando, ajudando. Vocês têm fome e sede do fim do feminicídio, da violência contra às mulheres, de um respeito pela dignidade. Ao trazer aqui a nossa palavra da nossa Arquidiocese, nós queremos reafirmar a confiança que temos, o respeito que devemos. Queremos também pedir perdão, pelas vezes que nós as ofendemos, não as respeitamos, não nos solidarizamos, sobretudo, nós, do ministério ordenado, que agimos muito mais como funcionárias do que como participantes pela dignidade batismal que cada uma tem na vida da Igreja. Nós queremos reafirmar: vocês são importantes, imprescindíveis e indispensáveis na vida da nossa Igreja, na vida da nossa sociedade”, sublinhou o Padre Geraldo Martins dirigindo-se às mulheres.
O primeiro dia do encontro foi encerrado com um momento de confraternização e partilha entre as participantes.

“Mulher, presença forte na defesa da vida!”
O segundo dia do evento foi marcado pela reflexão do tema e lema do 9º Encontro de Mulheres da Arquidiocese de Mariana. A programação foi aberta com a oração, momento em que, durante a recordação da vida, foram lembradas as mulheres que, em sua maioria, atuaram nas pastorais e movimentos na Arquidiocese e que faleceram nos últimos anos. Em seguida, foram realizadas duas palestras: “Mulher: força e perseverança no cuidado com a vida”, proferida por Sheilla Lourdes de Oliveira Forza, e “Tem sede e fome de quê”?, com a participação de Bruna Monalisa.

As conferencistas, de modo geral, por meio das suas falas reforçaram sobre a  importância da união feminina, por meio das lutas e sonhos coletivos, destacaram a necessidade das mulheres ocuparem cada vez mais os espaços públicos, especialmente, os de poder e serem as autoras das suas próprias histórias. Já durante a tarde, foram realizadas as oficinas do Encontro, momento importante para o diálogo, ouvir as histórias de luta e resistências das mulheres e reflexão sobre os direitos femininos. 

De maneira poética, o evento foi encerrado com a realização da plenária, quando as participantes apresentaram sobre o que foi discutido e trabalhado em cada oficina Em seguida, houve a oração e bênção de envio.

A felicidade do reencontro
Expressando a alegria da Região Mariana Leste e, em especial, a Paróquia São Pedro de Ponte Nova em sediar o Encontro, a Coordenadora Local do Evento, Dilma Martins Ferraz Oliveira, destacou a participação expressiva de todas as regiões no Encontro. “É muito gratificante, muito bom mesmo, a gente está assim, olhando no olho de cada uma, e sentindo ardendo o coração [de alegria]”, disse.

Após dois anos acontecendo de modo on-line em razão da pandemia, a 9ª edição do Encontro de Mulheres foi marcado pelos reencontros. Para Dilma, ao olhar a Igreja Matriz cheia durante a abertura do evento e saber quantos abraços poderiam ser dados durante os dois dias foi um momento de felicidade. “A gente estava com saudade desse calor humano, [de estar] com tanta mulher bacana de todos os cantos da Arquidiocese. Então, foi como se fosse o primeiro encontro”, frisou.

Segundo Dilma, uma palavra que resume o Encontro é gratidão. “É gratidão, é amor, é tudo saber que a gente deu conta de acolher. Foi muito gostoso mesmo. A gente estava preocupado com isso, com aquilo, mas no fim, tudo se multiplicou, tudo saiu maravilhoso. Todo mundo feliz e voltando para casa com vontade de que esse encontro continuasse por pelo menos mais uns dois dias”, destacou a Coordenadora local, agradecendo a todas as pessoas envolvidas na organização do evento.

Impressões do evento
Participando pela primeira vez do evento, Lourdes Maria da Silva de Senhora de Oliveira (MG), Região Mariana Centro, compartilhou que o Encontro a fez perceber que “a Igreja apoia também as mulheres que estão em situação de vulnerabilidade, abrindo espaços e apoiando para que elas possam se unirem e se fortalecerem. Com isso, a mulher passa a ter visibilidade na sociedade, ganhando forças para atuar em todas áreas sociais, antes ocupadas apenas pelos homens”. 

Para a Assessora leiga da Pastoral da Juventude (PJ) na Região Mariana Sul, Alessandra Neves Mrad, o Encontro de Mulheres é “um momento único que a gente vive todo ano e ficamos dois anos né sem sem poder ter o presencial e assim é uma forma da gente estar confraternizando e fazendo também uma denúncia das nossas realidades, compartilhar as nossas alegrias, conquistas e sonhos”.

Como sugestão para as próximas edições, Alessandra, que também atua na PJ do Regional Leste 2, apontou para a necessidade de se rever o formato do encontro, que tem início na sexta-feira, a fim de proporcionar que a juventude possa estar mais presente. “Geralmente, os jovens que trabalham ou estudam não conseguem vir. Então, de repente,  colocar esse encontro no sábado e domingo para ver se a gente consegue uma participação maior da juventude”, opinou.

Além de alcançar todas as cinco regiões desta Igreja Particular, o Encontro de Mulheres também atravessou as fronteiras diocesanas recebendo mulheres vindas de outras dioceses como Marinete da Silva Morais, da Diocese de Itabira (MG) e Assessora Leiga da Pastoral Afro-Brasileira do Regional Leste 2.

“Eu achei relevante a atuação da Arquidiocese neste trabalho até porque nós precisamos parar para poder pensar o ser mulher na Igreja, o ser mulher na sociedade, o ser mulher na família. Historicamente, achei que os temas foram relevantes, muito significativos, até porque os temas fazem provocações acerca até mesmo do lugar da mulher”, comentou Marinete sobre a importância do evento, parabenizando a Arquidiocese por esse trabalho realizado.

O Encontro de Mulheres ao longo dos anos
Estando presente desde a primeira edição do Encontro de Mulheres, realizada em Barbacena no ano de 2015, a Contato Arquidiocesana Sinodal e Presidenta do CNLB do Regional Leste 2, Leci Nascimento, compartilhou sobre as inquietações que motivaram a organização do evento. “Primeiro, a gente tem a consciência de que a mulher sempre foi excluída; ela também faz parte do grupo das minorias. Triste a gente perceber isso, mas é uma constatação nossa. Essa foi uma constatação também há dez anos, quando a gente percebeu isso e entendeu que seria muito interessante nos reunimos e conversamos enquanto mulheres sobre os nossos desafios, as nossas alegrias, as nossas dores, mas também as nossas conquistas”, explicou.

“O que eu percebo ao longo desses nove anos é o quanto nós crescemos, enquanto mulheres; quanto nós crescemos a nossa consciência da luta, da importância da gente ocupar os espaços. A gente naquela época não podia nem falar numa mulher na política, hoje, embora o número ainda seja muito pequenino, nós já temos representantes… isso já são conquistas nossas”, ponderou Leci.

Leci ainda compartilhou sobre a presença e a atuação das mulheres na Igreja: “Nós percebemos que nós podemos estar na Igreja não somente como colaboradoras, mas como corresponsáveis também. Nós também podemos assumir espaços que são de poder, não porque a gente quer mandar, mas porque a gente também tem consciência e condição de assumir responsabilidade e de dividir essas responsabilidades […]. Então, toda essa consciência, nós fomos adquirindo de uma forma maior sobre a importância da nossa luta ao longo desses encontros. Então, eles são fundamentais”. 
Contato Arquidiocesana Sinodal e Presidenta do CNLB do Regional Leste 2, Leci também chamou a atenção para os obstáculos que ela teve que enfrentar e enfrenta ao ocupar esses espaços por ser uma mulher preta, especialmente, em momentos em que ela era a única. “Hoje, é uma alegria quando a gente vê uma Pastoral Afro-Brasileira forte, que caminha a passos largos dentro da nossa Arquidiocese, com tantas outras mulheres pretas fazendo e construindo história junto. Não é uma mais, são muitas as mulheres que estão aí e mostram que são capazes. Para mim, é uma gratidão que eu tenho imensa a Deus poder estar aqui e fazer parte da Comissão das Mulheres da Arquidiocese”, concluiu.

Fotos: Cândida Maria, Thalia Gonçalves e Paróquia São Pedro, em Ponte Nova (MG)

Fonte: PASCOM

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